Um pouquinho de Budapeste em 48 horas
Desde já vou deixar bem claro: se você só tem 48 horas para fazer turismo em Budapeste, saiba que é pouco. Há muitas coisas lindas e interessantes que ficarão de fora de sua visita, não importa o que você priorize.
Bom, mas vamos ao que interessa: chegamos em Budapeste de Taxi Travel por volta de meia-noite, e, como achamos que passaríamos a madrugada viajando, não tínhamos reservado um hostel ou hotel para aquela noite.
O hostel que tínhamos para o próximo dia, o Zen Hostel, estava lotado, mas o pessoal acabou nos indicando outro lugar para passarmos aquela noite. Sinceramente, não lembro o nome, mas tudo bem, porque eu não recomendaria mesmo. Felizmente, não preciso dizer o mesmo do Zen Hostel: foi uma das melhores experiências de hostel que já tive na vida – e se vocês não acreditam em mim, acreditem no Paulo, que costuma ser muito mais crítico nesse aspecto do que eu.
Dia 1
De manhã cedinho já estávamos de pé para tomarmos nosso café, deixarmos nossa bagagem no Zen e partirmos para a primeira atração escolhida: O Parlamento de Budapeste, que fica do lado Peste.
Aqui, um parênteses pra explicar um pouquinho da história da cidade: Budapeste foi formada em 1873 pela junção das cidades de Buda, à margem direita do rio Danúbio, e Peste, à esquerda. Antes disso, por volta de 900 d.C., a região tinha sido tomada pelos magiares, povo que fundou o Reino da Hungria. Em 1541, as duas cidades foram subjugadas pelo Império Otomano, sendo reconquistadas pelos Habsburgo em 1686, e ficando sob domínio do Império Austro-Húngaro. Em 1867, a Hungria novamente ganhou status de governo autônomo.
Bom, para visitar o Parlamento é indicado chegar cedo, pois a atração lota de turistas. Há tours guiados em inglês e espanhol em diversos horários a partir das 10h, e as visitas duram cerca de 45 minutos. Já aviso que o ingresso não é barato: para um adulto custa 5200 Forints, algo em torno de 75 reais. Mas a visita vale a pena: além de o lugar ser lindo (diz a lenda que é inspirado no Palácio de Westminster, em Londres) por dentro e por fora (se liga na riqueza das paredes douradas!), é uma ótima oportunidade para conhecer um pouco mais da história da Hungria e ver, por exemplo, o cetro real e a coroa de São Estevão, o primeiro rei húngaro. Junto com a Basílica de São Estevão, é o edifício mais alto de Budapeste, tendo 96 metros de altura.
Após a visita, resolvemos ir até nosso próximo destino, a Basílica de São Estevão, caminhando pelas margens do rio Danúbio. Apesar de não estar azul como na valsa de Strauss, ele nos presenteou com algumas surpresas, como os ‘Sapatos às Margens do rio Danúbio’, um memorial que homenageia os judeus húngaros mortos na Segunda Guerra Mundial. Os sapatos fazem referência ao fato de que muitos deles eram jogados nas águas geladas do Danúbio para morrerem afogados ou congelados.
Continuamos pelas margens do rio até a praça (tér) Széchenyi István, pegamos a rua (utca) Zrínyi – da onde já víamos a basílica – e caminhamos até chegar até lá. A visão é realmente impressionante: um enorme edifício neoclássico com uma cúpula imensa. Mas é dentro dela que a mágica acontece: há elevadores que levam ao alto da cúpula, onde dá pra ter uma boa ideia da cidade – e morrer de medo, se você tem pavor de altura, como eu. Além disso, é possível ver também a mão mumificada de São Estevão – embora seja meio difícil de fotografar: se você quiser tirar a foto com uma luz extra acesa, tem que pagar por isso. Meio esquisito, mas interessante.
Depois da visita à basílica, a barriga já estava roncando, então decidimos ir almoçar na Andrássy, a principal avenida da cidade, considerada a Champs-Elysée de Budapeste. O que não falta são opções de restaurantes por lá – e por incrível que pareça, a preços módicos. Escolhemos um aleatoriamente, o Kantin, e não nos arrependemos.
O restaurante oferece um menu fechado para o almoço, e você pode escolher entre 3 opções de entrada, 7 de prato principal e 4 sobremesas por 2500 Forints, o que dá mais ou menos 36 reais por pessoa. Não é barato, mas a mesma refeição no Brasil com certeza custaria muito mais. Como entrada, escolhemos um pot-pourri de frios e conservas típicos da Hungria. Para o prato principal, fomos de goulash húngaro, e, de sobremesa, também um pot-pourri de doces. Infelizmente, vamos ficar devendo imagens, já que a fome foi grande demais para batermos foto…
Depois do almoço, voltamos algumas quadras até a Ópera Estatal Húngara, mas, infelizmente, nada de ingressos para a estreia do dia, que era L’histoire de Manon, uma versão do romance Manon Lescaut adaptada para balé. Pelo menos conseguimos tickets para uma visita guiada à ópera, às 16h.
Como ainda tínhamos umas duas horas de espera, resolvemos dar mais uma caminhada pela Andrássy e olhar suas outras atrações. Uma delas são os contrastes entre as casas ecléticas de fins do século XIX e os edifícios de arquitetura comunista.
Andamos até a Praça dos Heróis (Hősök tere) e seu Monumento ao Milênio (Millenniumi emlékmű).
Na volta, passamos pelo ótimo museu Terror Háza, ou Casa do Terror, que conta um pouco da história dos dois regimes totalitaristas que assolaram a Hungria no século XX: o nazismo e a dominação soviética. O prédio que abriga o museu é o antigo quartel da polícia secreta húngara. Super recomendamos!
Como as duas horas passaram voando, logo chegamos novamente à ópera para nosso tour guiado. É especialmente interessante para entender mais da história do país e de como a imperatriz austro-húngara Isabel, mais conhecida como Sissi, uma das mulheres mais famosas e influentes de seu tempo, era grande fã da cidade e dos húngaros, tendo contribuído inclusive (segundo as lendas) para que a Hungria se tornasse novamente um estado autônomo durante o reinado de seu marido, Franz Josef.
Depois de cerca de uma hora de passeio, voltamos ao nosso hostel, onde um presente nos esperava: uma garrafa de Tokaji, o famoso vinho da Hungria. Enquanto descansávamos antes de sair para jantar, demos uma provadinha e aprovamos! 😉
Para fechar bem a noite, fomos jantar no Menza, que oferece um cardápio bem típico húngaro. Lá, fomos novamente de goulash, já que os outros pratos pareciam muito pesados para a noite. Para acompanhar, Pálinka, a aguardente típica do país. Embora a gente tenha ficado com vontade de conhecer os chamados ‘pubs em ruínas’, como são conhecidos alguns bares da cidade que ficam em casas degradadas, o cansaço nos venceu e resolvemos voltar para o hostel e beber resto do Tokaji. 😉
Dia 2
Descansados, nosso segundo e último dia começou em grande estilo: fomos tomar café da manhã na confeitaria Gerbeaud, que era a preferida da imperatriz Sissi. Como vocês podem imaginar, tanto a comida quanto os preços são dignos de rainha: pagamos mais ou menos o mesmo que no Kantin. Ainda assim, acho que vale a pena conhecer.
De lá, nos encaminhamos para Buda, do outro lado do Danúbio. É a parte mais alta da cidade e também o Castelo de Buda, onde fica o antigo palácio real. Construído no século XVIII, atualmente é um complexo imperdível para os aficionados por história e também por belas paisagens urbanas.
Para subir, a forma mais fácil é pelo funicular da praça Clark Ádám, que fica bem em frente à ponte Széchenyi Lánchíd (essa da foto). Chegando lá, há muitas coisas para visitar: à esquerda, fica o enorme Museu de História de Budapeste, localizado no antigo palácio real. O museu é legal, mas cuidado para não se perder por lá e deixar de aproveitar as outras atrações.
Seguindo pelas muralhas do castelo que dão para a parte Peste (não preciso nem dizer que a vista sensacional rende vários cliques), você vai chegar à também linda Igreja de São Matias e seu telhado colorido. Foi nessa igreja de estilo neogótico que Franz Josef e Sissi casaram, em 1867. Também vale uma visita, pela beleza que é por dentro. Depois, não deixe de dar uma volta pela antiga cidadela de Buda. Mas, se você quer souvenires, os preços salgados de lá definitivamente não são os melhores.
Chegamos em Buda por volta das 10h e saímos perto das 14h. De lá, fomos para o bairro judeu, que era inclusive um dos maiores da Europa na época da Segunda Guerra Mundial. Como estávamos com fome, aproveitamos para almoçar no Hummus Bar da Király utca, que serve comida do Oriente Médio. É um restaurante que quase passa despercebido por quem caminha pela rua, já que fica dentro de uma galeria, mas a comida é muito boa e em conta.
Após o almoço, saímos caminhando pelas ruas do bairro, que ainda conserva vários edifícios da época da Guerra. Após o passeio digestivo, fomos para a Grande Sinagoga, a maior da Europa. A visita é cara, mas o lugar é bonito e dá pra aprender bastante. E os homens ainda ganham um kipá (aquele acessório que eles usam para cobrir a cabeça).
Depois da visita à sinagoga, dá também para ver o Museu Judaico. Como chegamos um pouco tarde (depois das 16h), o museu já estava fechado. Por isso, sugiro que, se você quer conhecer essas atrações, vá na parte da manhã. Felizmente, embora eu tenha ficado triste por não entrar no museu, mais uma vez Budapeste nos surpreendeu, e, nos fundos da sinagoga, vimos o lindo Memorial dos Mártires Judeus Húngaros, escultura de Imre Varga em forma de salgueiro que leva em suas folhas de metal os nomes dos judeus que morreram na guerra.
Já passava das 17h e tínhamos que voltar ao hostel para arrumar nossas coisas e ir para a estação ferroviária, onde nosso trem saía às 20h05 com direção a Praga.
Como eu disse, parti de Budapeste com a impressão de que 48 horas foram muito pouco para conhecer tudo de bom que a cidade tem a oferecer. Mesmo assim, se você não tiver mais tempo que isso – como foi o nosso caso – é possível transformar esses dois dias numa visita inesquecível. E, por isso mesmo, a vontade de voltar é inevitável.
Nos vemos na República Tcheca! 😉