Kutna Hora ou não Kutna Hora, eis a questão
Quando se trata de conhecer o mundo, tem gente que diz que algumas atrações turísticas valem por uma viagem inteira. Não sei se concordo com isso e com certeza nossa viagem à Kutna Hora não nos ajudou a formar uma opinião sobre o assunto.
Não que a visita não tenha valido a pena. Longe disso, a cidade é uma fofura e sua principal atração, o Ossuário de Sedleč (Kostnice Sedleč), é com certeza muito interessante. Mas, sendo sincera, esse é um passeio que eu só recomendo aos viajantes que tiverem tempo de dar uma esticadinha não comprometedora para além de Praga. Se você for abrir mão de muitas atrações na República Tcheca para visitar a igreja de ossos em Kutna Hora, poderá achar que foi muito esforço por pouca coisa.
Por que conhecer – ou não – Kutna Hora
Para dizer que não vale um relato, vamos lá: chegamos em Praga, vindos de Budapeste, umas 6 horas da manhã, na Praha hlavní nádraží, a Estação Ferroviária Central da cidade. Como já tínhamos planejado que nosso primeiro passeio na República Tcheca seria para Kutna Hora, nem saímos da estação: formos direto comprar nossas passagens, depois deixamos nossa bagagem nos lockers e fomos tomar nosso café da manhã antes de sairmos, às 8h. Mesmo para quem gosta de comprar os bilhetes com antecedência, como eu, acredito que não seja necessário neste caso: há passagens de hora em hora para a cidade e a viagem dura cerca de 90 minutos.
Nosso objetivo era principalmente conhecer o Ossuário de Sedleč. Por isso, mesmo chegando na estação Kutna Hora město por volta das 9h40, resolvemos criar um suspense antes da atração principal indo dar uma volta na cidade. Mas, como não há tanto o que fazer, não nos demoramos muito e resolvemos ir ao que interessava.
Há duas formas de chegar ao ossuário: você pode ir à pé, como nós fizemos, e levar cerca de 20 minutos, ou você pode ser mais esperto do que nós e descer na estação Kutna Hora Sedleč, que fica 7 minutos à pé do Ossuário. Bom, pelo menos da forma que fizemos nós pudemos conhecer melhor a cidade e gastar umas calorias extras… 😛
Agora, senta que lá vem história: segundo os relatos e registros que se tem sobre a região, a Igreja gótica de Todos os Santos, do século XV, ganhou essa sinistra capela subterrânea na metade no século XIX, quando a família Schwarzenberg, que era dona do terreno, contratou o artesão František Rint para decorar o santuário.
O artesão resolveu então usar as ossadas das pessoas enterradas ao redor da igreja para decorar o local, utilizando crânios, fêmures e outros ossos para criar cruzes, candelabros, colunas e até o brasão da família Schwarzenberg. Estima-se que tenham sido utilizados entre 40 mil e 70 mil esqueletos.
A razão de haver tantas pessoas enterradas em volta dessa igreja? Acreditava-se que no terreno havia certa quantidade de terra do Calvário, ou seja, a colina em que Jesus foi crucificado. Além disso, a peste negra em meados do século XIV e as Guerras Hussitas no começo do século XV ajudaram a aumentar e muito o número de sepultados no local.
Apesar do mau gosto, o resultado é de tal forma singular que o ossuário acabou se tornando patrimônio da UNESCO.
A pequena capela, no final das contas, é bem interessante. Ficamos lá cerca de uma hora nos impressionando com aquela pilha de ossos arrumada de uma forma tão tétrica – e tão criativa, não se pode negar.
Dali, saímos mais ou menos ao meio-dia com o objetivo de irmos direto para Praga – dessa vez embarcando pela estação Kutna Hora Sedleč. No fim das contas, a atração turística não valeu pela viagem inteira, mas com certeza faz valer o passeio!
Até Praga! 😉
